Para começar, é necessário mostrar a importância da leitura. E faço isso citando uma palestra que Neil Gaiman, o criador dos quadrinhos Sandman e de muitas outras obras adultas e infantojuvenis, deu na Reading Agency, uma instituição filantrópica inglesa, cuja missão é “dar a todos oportunidades iguais na vida, ajudando-os a se tornarem leitores confiantes e entusiasmados. Porque tudo muda quando lemos”. (Tradução minha, feita a partir do site da instituição).
Gaiman nos diz que certa vez, em Nova York, escutou um palestrante falar sobre a construção de prisões privadas nos Estados Unidos, uma indústria em amplo crescimento. Sabemos que todo investimento, para ser bem executado, precisa de planejamento a curto, médio e longo prazo. Nesse caso, planejamento a longo prazo das indústrias de prisões privadas precisa prever quantos prisioneiros existirão nos próximos anos para que nesse período não haja escassez de espaço.
Estudos feitos por essas indústrias encontraram uma maneira bastante fácil para descobrir o número final. Eles simplesmente basearam suas teorias na porcentagem de crianças entre 10 e 11 anos que não conseguiam ler. Claro que essa relação não é perfeita e nem deseja reduzir cálculos sociais tão complexos a uma porcentagem de pessoas que conseguem ler efetivamente ou por prazer. Se fosse assim tão simples, não haveria criminalidade em sociedades alfabetizadas. Porém, segundo Gaiman, o principal motivo para isso é que pessoas alfabetizadas leem por prazer, principalmente ficção.
As utilidades da leitura
Quem gosta de ler vai entender a analogia que vou fazer agora, apesar de ser um tanto quanto estranha: ler é uma droga viciante. Vicia porque não permite ao leitor adicto ter controle sobre o fluxo de leitura. O viciado é obrigado a virar a próxima página, a continuar lendo a história para saber o que acontece em seguida e, enquanto não sacia esse desejo crônico, não consegue parar de ler. E, como toda a droga, a prática literária requer um ingrediente indispensável: o prazer. E é com esse tesão que a primeira utilidade da leitura aparece. A cada novo livro, uma nova porta se abre. E o adicto sempre quer experimentar uma droga – livro – mais forte, com o objetivo de reproduzir o prazer que teve durante a última leitura. Sendo assim, um livro leva a outro, e novos caminhos, novas ideias e novos mundos se abrem. Por consequência disso não sou contra nenhum tipo de leitura. Pelo contrário, acho que a pessoa deve ler aquilo que deseja, pois só assim conseguirá alcançar leituras mais densas e complexas no decorrer de sua carreira como leitor. Lembram-se daquela expressão antiga que nossos pais diziam para nós, “ninguém nasce sabendo”?
Pois é, ela também se aplica na leitura.
É claro que existem gênios superdotados que já lia A Divina Comédia de Dante Alighieri com menos de dez anos, mas certamente esses indivíduos são exceções raríssimas. A maioria das pessoas não consegue fazer isso dada a dificuldade em entender uma história escrita em versos e repleta de simbolismos. E para aqueles que se encontram na maioria, ler livros complexos de maneira plena requer exercício e bagagem literária, que não se constrói da noite para o dia.
Conteúdo - Filipe Larêdo
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