Já dizem os escritores que escrever sobre a cidade de Jerusalém não é uma tarefa fácil. Isto se dá devido ao fato de sua importância histórica: para o povo judeu, é o local do templo e capital histórica de Judá. Para os cristãos, local da morte e ressurreição de Jesus. Para os muçulmanos, local da ascensão de Maomé ao céu. Cabe ainda destacar que Jerusalém é uma cidade habitada, o que dificulta escavações arqueológicas, que poderiam trazer à tona novas informações sobre a antiga cidade. Além disso, existem ainda hoje conflitos político e religioso por disputa de territórios entre palestinos e judeus.
Origem: "Jerusalém" significa em hebraico, habitação de paz. Seu nome é mencionado pela primeira vez nas escrituras em Josué 10,11. Entretanto, emGênesis14, 18, encontramos uma referência sobre a cidade, que aparece com o nome de Salém. De acordo com a tradição, assim era chamada a capital judaica.
Localização: A cidade está localizada em torno de 750 metros acima do nível do mar e entre dois vales: o Hinom, ao oeste e ao sul, e o Cendron, ao leste, que separa a cidade do Monte das Oliveiras. Situada nas Montanhas da Judéia, entre o mar mediterrâneo e o norte do mar morto.
Hoje pode-se observar no moderno museu de Jerusalém uma interessante maquete da cidade do período romano e que mostra o surgimento dos bairros novos na cidade. Por volta de 701 a. C. Ezequias, rei de Jerusalém, se rebelou contra o domínio assírio. Foi então que Ezequias construiu a forte muralha (cf. Is22, 10; 2Cr 32,5) com pedras que chegam a alcançar sete metros de espessura, como pode ser visto atualmente nas escavações. Para essa época, Ezequias também cavou o túnel de 513 metros a fim de trazer água da fonte de Gion para dentro da muralha da cidade, até o reservatório de Siloé (cf. 2Rs 20,20; 2Cr 32, 2-4. 30). O túnel foi escavado na rocha em forma de S começando simultaneamente pelas duas extremidades. Uma inscrição encontrada no interior do túnel relata o momento emocionante do encontro dos dois grupos de escavadores. Descoberto por Edward Robson em 1838, o túnel encontra-se aberto, hoje em dia, para visitas.
Em 587 a.C., Jerusalém foi destruída por Nabucodonosor, e sua população deportada para Babilônia. A cidade ficou abandonada por cinquenta anos, quando foi reconstruída, junto com o templo, pelos judeus que voltaram do exílio. Herodes, o Grande, que reinou de 37 – 04 a.C., reestruturou a cidade, aumentou consideravelmente a área da plataforma do templo e construiu um novo templo (cf. Jo 2, 20), a fortaleza Antônia e um palácio para si, cujo local é hoje identificado com a atual cidadela. Durante a guerra judaica (66-73 d.C.), Jerusalém foi novamente invadida e saqueada, e o templo destruído. Dessa vez, pelo general Tito, em 70 d.C. Em 132-135 d.C. aconteceu outra rebelião liderada por Bar Kohba, e novamente Jerusalém foi conquistada, e os judeus expulsos da Judéia. Em 313 d. C., o imperador Constantino legalizou o cristianismo, proporcionando a peregrinação de cristãos aos lugares sagrados da terra santa identificados por sua mãe Helena e demais estudiosos da época. Igrejas foram construídas por toda parte, surgiram mosteiros nos desertos, e Jerusalém, voltou a se expandir como no tempo de Herodes, o Grande. É o chamado período Bizantino (324-640). Em 636, a Palestina foi conquistada pelos Árabes (640-1099), comandados pelo califa Omar, sucessor de Maomé, Jerusalém se converteu num centro de peregrinação muçulmana. A cidade foi embelezada, a peregrinação cristã, permitida até 1009, quando o califa Louco Hakim começa uma perseguição violenta aos cristãos e as igrejas foram destruídas. A situação piorou em 1071, quando os turcos selêucidas tomaram Jerusalém e as peregrinações cristãs foram proibidas. Essa situação resultou num forte apoio da Europa à proclamação da cruzada pelo Papa Urbano II, em 1095, para “libertar a terra santa” e recuperar o controle das rotas comerciais do oriente. Em julho de 1099, os cruzados tomaram Jerusalém com um grande massacre de muçulmanos. Voltaram, então as peregrinações da Europa e cresceu o investimento na cidade com construções. O domínio europeu não durou muito tempo, em 1187 os cruzados foram derrotados por Saladino, cuja dinastia se manteve no poder até 1250, quando a Palestina foi invadida pelo Egito. Os egípcios permaneceram lá até 1517, quando Jerusalém caiu nas mãos dos turcos otomanos (1517-1918). Nesse período o Sulimão, o Magnífico (1520-1566), construiu as muralhas que cercam hoje a Jerusalém antiga. Na atualidade A cidade de Jerusalém esta dividida em quatro bairros: o bairro muçulmano, o maior; o bairro cristão; o bairro judeu e o bairro armênio. A muralha, sobre a qual se pode caminhar em grande parte, contém sete portões: o portão de Damasco, o portão de Herodes, o portão de Santo Estevão ou portão dos leões, o portão dourado, o portão Dung ou portão dos detritos, o portão de Sião, o portão de Jafa e o portão Novo(2). O portão dourado foi fechado desde a época dos muçulmanos. Destaque para quem chega a Jerusalém é conhecer a Cúpula da Rocha ou Mesquita de Omar, construída sobre o monte do templo. Este foi o primeiro santuário do Islam, erguido em 688 e 691 d. C. Sua construção teria sido em honra à ascensão de Maomé ao céu. Em disputa com os templos bizantinos da época, a Cúpula da Rocha estaria construída sobre a ruinas do Templo judaico que, conforme 2Cr 3,1 estava construído sobre o monte Moriá, onde em Gn 22,2 Abraão iria sacrificar seu filho Issac. De acordo com a tradição popular, essa seria a enorme rocha que se encontra em seu interior e que lhe confere o nome de cúpula da rocha. Hoje o acesso à mesquita é restrito, sendo permitido apenas aos muçulmanos. O chamado muro das lamentações, é o muro ocidental, está localizado na parte sudoeste do monte do templo e leva este nome porque durante séculos os judeus do bairro vizinho para lá se dirigiam a fim de rezar e lamentar a destruição do templo. Hoje é possível ver gente do mundo inteiro, e não somente judeus, fazendo suas orações, realizando celebrações festivas como de Bar-Mitzva e deixando entre as pedras do muro seus pedidos. Aos visitantes, chama atenção à divisão para se chegar ao muro. A parte sul é restrita às mulheres, que por sua vez, não podem entrar na praça maior, restrita os homens. A área do muro ocidental é uma Sinagoga aberta onde também são realizadas as orações próprias de abertura e encerramento do Shabat. Na área externa da Sinagoga também acontecem celebrações civis e do exército israelense. O Santo Sepulcro local de peregrinação é guardado por seis grupos: católicos romanos, gregos ortodoxos, armênios, sírios, coptas e etíopes. Destaca-se que na parte superior da Igreja existe uma rocha onde se acredita ser a rocha do calvário onde Jesus foi crucificado. Debaixo do altar há um orifício redondo onde é possível tocar a rocha. Outro objeto que chama atenção dos peregrinos é a pedra que lembra onde o corpo de Jesus foi colocado antes de seu enterro (cf. Jo 19, 38-40). A pedra atual que vemos é do séc. XIX. Para os peregrinos faz parte do itinerário conhecer a Via dolorosa, ou via-sacra, ou seja, o caminho que Jesus seguiu do momento de sua condenação até o calvário. No século XIV, os franciscanos organizaram a via-sacra só na cidade com oito estações.
Os peregrinos europeus levaram essa tradição para a Europa e incluíram mais seis estações, resultando quatorze ao todo. Atualmente o caminho percorre boa parte do bairro muçulmano e termina no bairro cristão.
Conclusão
Por Jerusalém ser considerada uma cidade santa por povos de diferentes tradições religiosas, as escavações sempre suscitaram reações emocionadas e vozes que se levantam para condenar os trabalhos dos pesquisadores. As dificuldades, porém, não tem impedido que se continue ainda hoje a escavar Jerusalém. Foi em Jerusalém que Cristo deu a Sua vida por amor a humanidade. Foi em Jerusalém que se deu a efusão do Espírito Santo do Senhor, derramado em Pentecostes, fazendo dela o berço da Igreja cristã. Foi em Jerusalém que Estevão, o primeiro mártir da Igreja deu sua vida por amor a Jesus Cristo. A nova aliança entre Deus e a humanidade foi selada em |Jerusalém.
Este lugar santo tornou-se o local de cruzamento de toda a história da salvação e consequentemente alvo de muitos conflitos. Dezessete vezes destruída, mas dezoito vezes reconstruída. Símbolo da resistência do amor que sobrevive e atravessa séculos, amor de um Deus único, que ama e que é amado por seus filhos e filhas eternamente.
Bibliografia:
KAEFER, José Ademar. Arqueologia das terras bíblicas. São Paulo: Paulus, 2012. O’CONNOR, J.M. Tierra Santa-Desde las origenes hasta 1700. Madri: Acento editorial, 2000. ÉTIENNE, Dahler.Os lugares da Bíblia. São Paulo: Paulus, 1996. SOTELO, Daniel. Arqueologia Bíblica. São Paulo: Novo Século, 2003. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2003. http://mfa.gov.il/MFA/MFAES/MFAArchive/Pages/Mapa%20de%20Jerusalem.aspx.
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