Mais de 40 anos após lançamento do disco, envolvidos no projeto dão suas versões sobre a imagem. Afinal, é uma boca ou um ânus?
Mais de 40 anos depois de seu lançamento, o álbum “Todos os Olhos” (1971), de Tom Zé, ainda gera debates.
A questão nunca esclarecida é se a imagem retratada na capa é uma boca ou um ânus. No “Conversa com Bial”, em dezembro passado, Tom Zé não soube responder a questão.
Mas a produção do programa foi em busca de respostas e convocou o fotógrafo Reinaldo Moraes e o publicitário Chico Andrade, envolvidos no projeto, para esclarecer a dúvida.
Reinaldo e Andrade resgataram a história do álbum. Mas cada um conta uma versão. Confira o vídeo em que os dois relembram os momentos da produção da capa.
“Movido por essa molecagem da idade, daquele momento, eu falei: ‘vou atrás, tanto das bolinhas de gude quanto do lugar onde colocá-la’.
Aí uma amiga minha, muito amiga, sugeri para ela. E ela no mesmo instinto de molecagem, de farra mesmo, topou", recordou Reinaldo.
"A sessão fotográfica foi épica.
Porque minha máquina fotográfica era uma porcaria. Levei também farinha de trigo com água pra fazer a cola. Uma vez terminada a sessão. No dia seguinte entreguei os rolos de filme e ele falou que chegaram a conclusão que não estava dando ambiguidade, estava muito claramente um ânus e não queriam isso”, contou o fotógrafo, afirmando que acabaram optando por fazer novos registros usando uma boca.
Já Chico foi direto: “A gente fez uns testes com boca, mas foi um c... mesmo. Era um trocadilho gráfico”.
“Essa foto foi o seguinte. Eu reuni três pessoas na época.
Fomos até o Jockey Club. Tinha aquelas moças que faziam programa a noite. Contratamos uma fulana. A gente queria saber quanto que era o cachê e a gente pagaria o que ela perderia do tempo dela pra tirar essa foto. Feito isso, levamos a moça para agência.
E foi aprovado, fizemos o layout...”.
E se a dúvida perseguiu mesmo após a consulta com dois envolvidos com o projeto, o coloproctologista Umberto Morelli foi consultado para tentar solucionar o mistério.
“É uma boca”, respondeu ele, ressaltando que o controle do ânus é ligado a evacuação e não a gestão de um objeto. No caso, a bolinha de gude.
G1
Charles Gavin, ex-baterista dos Titãs e apresentador do programa Som do Vinil (Canal Brasil). Existe uma máxima dita por aí que trata das coisas antigas: “quem vive de passado é museu”. Discordo.
Prefiro acreditar em Renato Russo, que cantava “o futuro não é mais como era antigamente”. E, usando o tema deste espaço, a música, posso comprovar.
Um passeio pelas grandes lojas de discos que ainda resistem e você pode encontrar uma série de títulos lançados primeiramente em LP agora apresentados em versão CD.
Essa enxurrada de disquinhos prateados no lugar dos antigos bolachões se deve ao trabalho de pesquisadores que se embrenham nos arquivos das gravadoras em busca daquele disco lançado décadas atrás, mas que acabou esquecido embaixo de um monte de poeira.
Entre esses arqueólogos, um dos nomes mais conhecidos é do paulistano Charles Gavin, ex-baterista dos Titãs e apresentador do programa Som do Vinil (Canal Brasil).
Desde 1999 nessa empreitada, o músico já foi responsável por mais de 500 reedições. Entre elas, os dois únicos LPs do Secos & Molhados (Série Dois Momentos), as décadas de 1960 e 1970 de Marcos Valle (no box Tudo) e o único trabalho da power band de Hermeto Pascoal e Lanny Gordin, Brazilian Octopus (série Som Livre Masters).
Charles Gavin agora está envolvido com a Coleção Cultura, projeto encabeçado pela Livraria Cultura que já tirou do “umbral” 20 discos, nacionais e internacionais, que passeiam por clássicos obscuros do sambajazz até o progressivo brasuca. Outros 10 estão sendo planejados para o segundo semestre.
Já nas lojas, Herbie Mann & João Gilberto & Tom Jobim (1962), por exemplo, é um encontro de estrelas da maior grandeza em torno da Bossa Nova. Filho de russos e romenos, criado em Nova York, Herbie era um apaixonado pelas possibilidades artísticas do banquinho e violão.
O mesmo pode ser dito do cantor americano Jon Hendricks, que homenageou o pai da Bossa Nova em Salud! João Gilberto (1961). Outra preciosidade, há tempos esquecida, é o cartão de visita do arranjador Artur Verocai.
Lançado em 1972, agora relançado em CD e LP, o disco mistura jazz, funk e soul, com uma roupagem elegante e participações fundamentais de Célia e Carlos Dafé.
* Arqueologia Musical *